DICA:
Bike fit
Acho que poucos ciclistas no Brasil ouviram falar de Nat Ross. Ele é um especialista em provas longas e bastante conhecido na América do Norte, detendo nada menos que 38 recordes de provas de MTB de 24horas, além de vitória em RAAM e outras provas.
Numa entrevista, quando perguntado sobre o que ele considerava a coisa mais importante para ciclismo de longa duração ele respondeu: bike fit profissional.
Note o termo “profissional”, ou seja, mesmo sendo um cara com experiência e bagagem invejável, ele recorre ao serviço profissional para ajustar as medidas da sua bike.
Essa matéria não era muito considerada pelos ciclistas brasileiros até recentemente, e mesmo hoje tem gente que não dá muita importância. Mas se você é um desses que investe no equipamento e no treinamento deveria pensar seriamente sobre este assunto.
Basta dizer que para alguém que treina regularmente não é de todo fácil melhorar o rendimento em 3 a 5%. Mas se você está pedalando fora da posição ou do alinhamento ideal pode facilmente estar perdendo isso, sem contar também que as chances de contusões ou dores (lombar, no pescoço ou nas articulações) aumentam bastante.
Para se ter uma idéia se você buscar uma assessoria esportiva para te auxiliar no treinamento nos países desenvolvidos, o bike fit e os dados fisiológicos serão o ponto de partida. Aqui no nosso meio poucos grupos de treinos estão estruturados para isso.
Quem divulgou no mundo a importância do bike fit foi o legendário Greg Lemond. Ele criou fórmulas para calcular a altura e o posicionamento do selim, comprimento do avanço e a altura do guidão, entre outros. Um dos seus conceitos, o de que a articulação do joelho da frente deve estar verticalmente posicionado em relação ao eixo do pedal quando o pedivela estiver na posição horizontal (no caso de uma bike TT a articulação pode avançar um pouco para frente, mas nunca recuar) é aceito pela maioria absoluta.
Evidentemente existem diferentes escolas de bike fit, e algumas até defendem o posicionamento intuitivo. Além do mais existem questões pessoais a serem consideradas como flexibilidade, agilidade e idade.
Felizmente o nosso mercado está tomando conta da importância dessa matéria, e hoje existem várias lojas que tem um pessoal treinado para bike fit. O meu conselho é que se você está comprando uma bike cara procure uma dessas lojas. Isso porque uma bike top hoje utiliza componentes muito caros. Então se tiver que trocar de peça (os mais comuns são canote, avanço e o selim) é melhor negociar isso na própria loja e já comprar uma bike ajeitada do que ter que gastar duas vezes. Nesse sentido nem sempre é bom ir para uma loja que te dá um descontinho mas não te presta um bom serviço.
E como nada fica parado no tempo os conceitos e os procedimentos do bike fit também evoluiram. Os centros um pouquinho mais desenvolvidos estão trabalhando o sistema 2D e 3D, que filma o seu movimento numa bike estacionária (3D com várias câmeras, e com os LEDs marcadores nas articulações) e analiza as variações sob esforço. Muita gente tende a mudar de posição (tipo avançar ou recuar um pouco no selim ou balançar demasiadamente o tronco) quando está fazendo força. Com a filmagem faz-se a análise dinâmica do movimento e os detalhes são visualizados com câmara lenta, imagens quadro-a-quadro e até com o congelamento de imagem. Então estes métodos não só ajudam a ajustar o posicionamento, mas também auxiliam na correção da técnica.
A princípio eu considero essa uma matéria para especialistas. Mas vou colocar alguns parâmetros aqui para que as pessoas que não conhecem bem o bike fit possam ter uma idéia do conceito. As informações subseqüentes baseiam na fórmula Lemond, pois a configuração resultante desse método é considerada como ponto de partida para quase todas as escolas de bike fit da atualidade.
Note que esse sistema considera um posicionamento atlético ou esportivo em MTB tipo x-country e maratona ou roadbike. Dessa forma ela não deve ser empregada para MTB freeride ou downhill, assim como para BMX ou ciclismo recreacional.
Também é importante deixar claro que a configuração de time trial e triatlon difere um pouco do posicionamento padrão.
Os ajustes baseados nas medidas corporais é um bom ponto de partida para encontrar o melhor posicionamento. É evidente que pequenos ajustes posteriores possam ser necessários considerando as características individuais como flexibilidade, envergadura e idade.
Dito isso que fique claro que as medidas obtidas pelos processos a seguir descritos devem ser interpretadas por “profissionais” (como disse o Nat Ross) e ajustadas, não devendo ser empregadas como padrões absolutos e estanque.
Tamanho do quadro:
Tamanho do quadro de uma roadbike é medida na linha do seat tube em cm, partindo do centro do movimento central até o centro do top tube (normalmente referido como medida C-C). A fórmula abaixo apresentada considera a medida do centro do movimento central até o topo do top tube (medida C-T)pois hoje as bikes utilizam tubos de diferentes medidas, o que pode gerar variação se considerar o centro do top tube. Também note que a maioria das bicicletas de hoje tem a geometria slooper ou semi-slooper, e a medida tem que ser corrigida para uma altura virtual projetada.
Tamanho do quadro em cm = Cavalo (cm) X 0,67
Na prática se nota que essa fórmula tem um desvio generalizado onde pessoas muito altas tendem a necessitar de um quadro ligeiramente maior, enquanto que as pessoas pequenas precisam de um quadro ligeiramente menor. Também é importante saber que no caso de MTB o quadro deve ser menor em 10cm a 12cm do que o resultado da fórmula. Para o ajuste fino procure uma pessoa que entende bem do assunto.
O tamanho do quadro é um parâmetro muito importante. Não compre uma bike fora da medida simplesmente por que conseguiu uma boa oferta. Com uma bike fora de medida você não vai render bem, vai perder a agilidade e a potencialidade de ter problemas como dores e contusões aumentam bastante.
Nota: a fórmula original utilizava o fator 0,65 para medida do centro do movimento central até o centro do top tube (C-C). Mas como hoje muitas bikes utilizam tubos de dimensão diferentes houve a correção do fator para 0,67 e considerando o topo do top tube (C-T).
Altura do selim:
A altura do selim deve ser ajustada considerando que na extensão máxima da perna o joelho deve dobrar cerca de 15º em relação ao esticado.
Altura do selim (cm) = Cavalo (cm) X 0,883
A medida obtida reflete na distância do topo do selim até o centro do movimento central. Esta medida pode sofrer uma ligeira alteração de acordo com o tamanho do seu pé e da angulação do tornozelo.
É relativamente comum as pessoas sentirem dor lombar depois de algum tempo de pedal quando o selim está um pouco alto demais.
Joelho sobre o eixo do pedal:
Para ajustar a posição do selim para que o joelho se coloque diretamente acima do eixo do pedal que está para frente quando o pedivela está paralelo ao chão deve-se montar a bike num rolo nivelado. Idealmente você deve girar por 10 ou 15 minutos, pois a posição que você senta no selim quando sobe numa bike pode ser ligeiramente diferente da posição de acomodamento depois de um tempo rodando.
Então deve parar de pedalar de forma que o pedivela fique paralelo ao chão e travar a roda no freio (pode-se usar uma fita de firmapé apertando o freio). O ciclista deve tomar cuidado para manter a posição sobre o selim, assim como a angulação do tornozelo. Feito isso uma segunda pessoa deve posicionar uma linha de nível por debaixo da rótula na parte anterior do joelho e conferir a verticalidade em relação ao eixo do pedal.
O ajuste para acertar a posição deve ser feito movendo o selim para frente ou para trás. Se o raio do movimento do selim não permite o ajuste adequado ou você está com uma bike com quadro fora de medida ou terá que mudar de canote do selim.
Os mountainbikers e ciclistas de longa distância tendem a posicionar o selim ligeiramente para trás, enquanto que os sprintistas e ciclistas de Time Trial tendem a mover para frente.
Nota: Os trilhos do selim normalmente estão angulados em relação ao plano, de forma que quando mover o selim a altura em relação ao movimento central pode acabar variando um pouquinho.
Comprimento do top tube e avanço
A medida correspondente ao comprimento do top tube mais o comprimento do avanço do guidão é conhecido no meio do bike fit como “alcance”, e é importante, pois o correto alcance facilita a sua respiração, não estressa o pescoço e o lombar e proporciona uma melhor distribuição de peso - o que resulta na melhora da dirigibilidade.
No entanto esta é uma medida complexa, pois existem vários fatores que podem alterar o alcance ideal, como o estilo de condução, flexibilidade, diferença nas medidas de proporção corporal, entre outros.
É também normal uma pessoa inexperiente sentir-se melhor com alcance curto, e deparar com a necessidade de “esticar” a bike na medida em que adquire experiência.
Uma forma utilizada com freqüência para determinar o alcance é posicionar a bike num local plano (idealmente sobre o rolo nivelado) e se colocar em cima da bike pegando o guidão no drop (parte baixa). Se nessa posição a visão do cubo dianteiro for obstruída pelo guidão pode-se dizer que está na configuração neutra.
Tamanho do guidão:
Normalmente se recomenda o guidão com a largura do ombro (não largura corporal fora a fora, mas de junta a junta) como padrão. Guidão mais largo abre mais o peito, facilita a respiração e te dá mais alavanca, mas é menos aerodinâmico.
Pedivela:
O comprimento do pedivela depende do seu tamanho e um pouco do seu estilo. Normalmente um roadbike com quadro de 54cm ou menos vem com pedivela de 170 a 172,5mm, enquanto que os maiores vem com pedivela de 172,5 a 175mm.
Em termos gerais pedivela longo tem melhor alavanca e facilita fazer força, enquanto que o curto facilita o giro. Dessa forma é normal uma pessoa utilizar pedivela ligeiramente mais longa (cerca de 2,5mm) para MTB ou time trial.
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