Pista, a mãe de todas as modalidades
Texto de Marcos Adami/Bikemagazine
Há um ditado que diz que o ciclismo de pista é o pai e a mãe de todas as modalidades. E é a pura verdade, pois as bicicletas com pinhão fixo aperfeiçoam o gesto da pedalada, seja no mountain bike, ciclismo de estrada ou bicicross.
Se pegarmos o quadro de medalhas de qualquer encontro olímpico, os países que se destacam são justamente aqueles onde o ciclismo de pista é mais desenvolvido.
Dos velódromos saem a maioria esmagadora das medalhas do ciclismo. No Pan do Rio, por exemplo, foram 33 medalhas em jogo dentro de nosso velódromo e o Brasil não ficou com nenhuma delas. No fim, amargamos a modesta nona colocação no quadro geral de medalhas do ciclismo, dominado pelos colombianos, que ganharam quatro medalhas de ouro, cinco de prata e uma de bronze. O mesmo se passou em Guadalajara, com a triste diferença que o Brasil não conquistou nem uma simples medalha em nenhum esporte com bicicleta.
O grande bicho papão dos velódromos na atualidade são os britânicos. Em Pequim, os ciclistas a serviço da rainha faturaram oito medalhas de ouro, quatro de prata e duas de bronze. Os arqui-rivais franceses ficaram na segunda colocação com duas de ouro, três de pratas e uma de bronze. Para Londres, a equipe da casa promete muitos títulos.
E a tradição britânica vem de longe. No final do século XIX e nos dois primeiros anos do século XX, era comum as pessoas irem ao velódromo todas as noites depois que o pubs se fechavam para acompanhar os rachas locais. Até hoje a tradição é mantida, com corridas quase todos os dias, inclusive com apostas em dinheiro.
Atualmente a Grã Bretanha tem 23 velódromos, o Japão 47 e a Austrália 20. Não é em vão que os britânicos conquistaram 14 medalhas em Pequim, sendo oito de ouro. Nossa vizinha Argentina tem 39 velódromos e trouxe para casa uma medalha de ouro conquistada no velódromo de Laoshan, em Pequim.
AS BIKES
As bicicletas utilizadas em velódromos – as pisteiras – têm características bem diferentes das bikes de ciclismo estrada. Para começar, tem o pinhão traseiro fixo, isso é, as alavancas do pedivela giram juntamente com as rodas. Não há descanso quando se pedala uma bike de pista.
A outra diferença é que não há freios. Para frear, o ciclista aplica uma força contrária nos pedais. A corrente é mais grossa e o uso das blocagens é vetado. As rodas são fixadas com porcas de tamanho 15mm e a gancheira traseira tem a abertura voltada para trás. Em competições oficiais, o pedal deve ter travas suplementares que passam sobre a sapatilha.
Os pneus em sua maioria absoluta são os tubulares, que em caso de furo não murcham imediatamente e tornam o controle da bike mais fácil nessa situação.
Como era de se esperar, num país carente de velódromos, as pisteiras são raras por aqui e difíceis de encontrar. O que muita gente faz é montar sua própria bike de velódromo usando um quadro de estrada com componentes de pista. Mas com paciência e uma boa dose de engenhosidade e improviso é possível montar uma boa bike.
O ciclista campineiro Luiz Guilherme Stangier Pires Barbosa descobriu o ciclismo de pista em 2004, na ocasião em que representou a cidade nos Jogos Regionais, e foi contagiado pelo vício das pisteras.
Hoje, o policial civil e ciclista amador tem cinco bicicletas de velódromo e conhece a receita para se montar uma bike de pista gastando pouco. “Voltei dos Jogos e montei duas bikes de pista. Nunca mais parei”, conta.
E a primeira bike de Guilherme foi uma Caloi 12, com a traseira retrabalhada. “Encurtei a traseira em 3cm e construí uma gancheira específica para pista”, lembra.
Os componentes são todos específicos para bike de pista. Mas sempre é possível improvisar. Guilherme ensina que o pedivela de estrada pode ser aproveitado. O pinhão pode ser o mesmo de uma bike trial e o cubo traseiro, de rosca, é o mesmo tipo utilizado nas bikes populares de rua, sem marcha, que custam R$ 12 o par. A corrente pode ser a de uma bicicleta Barraforte, mais grossa, e muito barata.
O pedivela de uma estradeira também dá para ser aproveitado. “Basta tirar a coroa grande do pedivela e fixá-la para o lado de dentro. Mas tem que ficar atento com o alinhamento da corrente entre o pinhão e a coroa”, ensina Guilherme. Normalmente se utilizam coroas entre 48 e 53 dentes e pinhões que tenham entre 14 e 17 dentes.
O ideal é que o pedivela seja um pouco mais curto, de 170mm ou 172,5mm, por exemplo.
Diversos quadros podem ser utilizados na montagem de uma bike de pista. “A primeira geração da Caloi Strada de alumínio é perfeita. Mas pode ser uma KHS de cromo, uma Trek, uma Specialized. Tanto faz.”.
No Brasil é possível encontrar quadros argentinos das marcas Privitera ou Collner, e outros importados como os Vicini específicos para pista, Bianchi e os nacionais da Mônaco. A Volare chegou a ter quadros para pista, que equiparam inclusive a Seleção Brasileira, mas a marca não está mais disponível no mercado. Um quadro Vicini para pista, com caixa de direção e garfo sai por R$ 700. Já um quadro de cromo KHS, usado, vai sair por R$ 200, já com a mão-de-obra e solda TIG necessária para fazer a adaptação na gancheira traseira.
Uma coroa de 48 dentes da Blackspire pode ser encontrada por R$ 160 com comerciantes especializados. O melhor é usar um guidão específico para pista, que tem a curva mais suave e não tem os passadores dos cabos. Os eixos são comuns e as porcas podem ser compradas em lojas de ferragens mesmo.
Quem puder investir num bom pedivela de pista vale a pena. Os da marca Miche custam em torno dos R$ 400. A Shimano e a Campagnolo também tem modelos específicos para pisteiras.
AS VANTAGENS DA FIXA
Pedalar uma bike de pinhão fixo é o melhor educativo para a pedalada. Na bike fixa o ciclista faz o exercício nos 360º do ciclo da pedalada e traciona 100% do tempo.
Outra vantagem é o desenvolvimento da potência, tanto pela aplicação de força como pela velocidade. O sistema cardiorrespiratório trabalha todo o tempo, já que é impossível parar de pedalar numa fixa. No velódromo, o exercício é perfeito, pois não há subidas nem descidas e o atleta pode trabalhar numa faixa de frequência pré-determinada.
Rodando num velódromo, as variáveis cadência, frequência cardíaca e velocidade são totalmente controladas durante o treino, especialmente nos treinos intervalados.
“Outro fator positivo do treino em velódromo é a proximidade do treinador do atleta. A cada volta, lá está o técnico orientando o ciclista”, afirma Guilherme.
DICAS PARA INICIANTES
Para quem quer iniciar no velódromo ou apenas curtir uma bike de pinhão fixo, vale conferir as dicas do Guilherme:
Existem diversos tipos de velódromos. Eles podem ser abertos e sem iluminação, abertos e iluminados ou cobertos. Mas a principal qualidade que os diferem entre si é o material da pista, que pode ser feita de cimento, asfalto, tarmac (uma espécie de precursor do asfalto) e o melhor de todos os pisos, a madeira. Entre as madeiras, a melhor é considerada o pinheiro siberiano, ou Pinho de Riga, que reveste a pista do velódromo do Rio de Janeiro e foi construída pela empresa holandesa Sander Douma, a mesma que fez a pista do velódromo dos Jogos de Atenas.
Outra preocupação na hora da construção é que a pista seja totalmente isenta da influência do vento, algo comum nos velódromos descobertos, mas também em alguns velódromos de última geração. Quem rodou no Velódromo da Barra, no Rio, garante que um dos lados fica exposto ao vento.
A pista de um velódromo pode variar de 150 a 500 metros. A maioria tem 250 metros, como é o caso do velódromo carioca. A inclinação pode variar de 12º a 42º, conforme a extensão da pista.
PROVAS OLÍMPICAS
As provas de velódromos são as seguintes:
Strach: É uma prova de largada conjunta (não existem eliminatórias, todos os participantes iniciam a prova em simultâneo) em que o objetivo é chegar no final em primeiro.
Corrida por pontos: É a prova mais longa do ciclismo de pista. A distância é de 25 km para mulheres e 40 km para homens. A cada sprint de dez voltas, os quatro melhores posicionados recebem uma pontuação, que dobra no último sprint. O vencedor é o ciclista que somar mais pontos. Nesta modalidade somente são disputadas provas individuais.
Keirin: A prova é disputada em oito voltas. Nas primeiras cinco voltas e meia, os ciclistas seguem uma bicicleta motorizada. Ela dita o ritmo do percurso até chegar aos 45 km/h. Quando a moto sai da pista os atletas dão o máximo nas últimas duas voltas e meia.
Madison: A prova é disputada entre dois ciclistas. Um deles mantém ritmo lento na parte alta da pista, enquanto outro percorre o mais rápido possível a parte baixa do velódromo. Há uma troca de ciclista, chamada de “câmbio”. O ciclista que está na parte de baixo toca a roda do companheiro para que este prossiga pedalando. A dupla pontua a cada 20 voltas completadas. O vencedor é quem completar o maior número de voltas. Em caso de empate, o vencedor será o que somou mais pontos.
Velocidade: É uma prova bastante curiosa de assistir. Nos primeiros 800 metros, os ciclistas pedalam lentamente, para evitarem ficar a frente do adversário, para que não se dê a vantagem do vácuo. O percurso total tem mil metros, mas somente os últimos 200 metros são cronometrados. Dois atletas percorrem a pista para competirem um contra o outro. A prova é percorrida em três voltas e é eliminatória.
Velocidade olímpica: Disputada por equipes de três ciclistas que largam em posições opostas da pista. Na primeira volta a disputa é liderada por um ciclista, que sai da disputa quando a volta é completada. Na segunda volta, o segundo competidor assume a liderança e sai da disputa na conclusão do término do percurso. Na última volta, o terceiro competidor completa a prova. Os pontos dos três ciclistas são somados para definir a equipe campeã. A prova somente é disputada por homens.
Contra o relógio: O ciclista larga sozinho na pista para percorrer mil metros. As mulheres correm 500 metros. Cada competidor larga em intervalos de 90 segundos.
Perseguição: Os ciclistas largam em posições opostas do velódromo. O atleta que ultrapassar primeiro o adversário vence a prova. Se não acontecer isto, o vencedor é aquele que completar o percurso da prova em menos tempo. Para homens, a distância é de 4 mil metros e 3 mil para mulheres. As provas são disputadas individualmente e por equipes.
Perseguição por equipes: A prova é disputada por quatro componentes, que completam 14 voltas. A equipe que terminar primeiro a distância com três ciclistas ou aquela que ultrapassar o terceiro ciclista adversário vence.
Quilômetro contra o relógio: A disputa é individual e consiste numa corrida contra o relógio entre a linha de partida e de chegada. Os ciclistas partem em intervalos de um minuto. São mil metros para os homens e 500 metros para as mulheres.
NO BRASIL
O primeiro velódromo do Brasil foi construído em 1892 e ficava onde é hoje a Rua da Consolação, na Zona Oeste da cidade de São Paulo. Em 1901 o Velódromo Paulistano virou estádio de futebol. Em 1963, a cidade ganhou o velódromo da Universidade de São Paulo, construído para receber os Jogos Pan-Americanos.
Hoje, o velódromo da maior cidade do Brasil está irreconhecível. Mas, se nos serve de consolo, o mesmo destino teve o velódromo de Herne Hill, construído para receber as provas dos Jogos Olímpicos de Londres, em 1948.
Saiba como estão os velódromos do Brasil:
Rio de Janeiro, RJ – Inaugurado às pressas para o Pan de 2007, o Velódromo da Barra, como é conhecido, é de primeiro mundo e o mais sofisticado da América Latina. Tem pista de madeira de 250 metros, elevador para ciclistas, cronômetros e placares Tissot. Acomoda 1.500 espectadores. Atualmente sob a tutela do COB, mas foi utilizado pouquíssimas vezes após o Pan. Será desmanchado para dar lugar a outro velódromo que vai receber as provas dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016.
Betim, MG – Fica no Parque Fernão Dias, na divisa entre os municípios de Betim e Contagem. A pista é de concreto e a Federação Mineira de Ciclismo manifestou o interesse em reformá-lo. Os ciclistas pisteiros da Grande Belo Horizonte se encontram em algumas datas para pedaladas entre amigos.
Curitiba, SP – Na capital paranaense, o velódromo fica junto no Centro Esportivo Municipal, no Jardim Botânico. Inaugurado em 1979, recebeu reformas para sediar os Jogos Sul-Americanos em 2002. Tem várias pequenas rachaduras, resultado de infiltrações. A pintura e área externa estão degradadas e há mato nas muretas de proteção.
Caieiras, SP – Inaugurado em 2003, o Velódromo Municipal de Caieiras – na Grande São Paulo – tem pista de concreto de 250 metros e já recebeu provas importantes do calendário nacional.
Maringá, PR – Inaugurado em junho de 2008, é descoberto e tem pista de 250 metros de concreto. O equipamento é parte integrante do Complexo Olímpico de Maringá. Após oito meses sem nunca ser utilizado, foi severamente pichado no início de fevereiro 2010.
Americana, SP – Fica junto ao Conjunto Poliesportivo Ayrton Senna da Silva e é utilizado pela equipe de ciclismo local e pelo time de Iracemápolis, entre outros. Tem pista descoberta de cimento de 333,33 metros de extensão.
USP, São Paulo – Foi construído em 1963 quando a capital paulista recebeu os Jogos Pan-Americanos e a universidade sempre restringiu seu uso. Tem pista de 200 metros de cimento. Está fechado desde o final dos anos 80.
Há um ditado que diz que o ciclismo de pista é o pai e a mãe de todas as modalidades. E é a pura verdade, pois as bicicletas com pinhão fixo aperfeiçoam o gesto da pedalada, seja no mountain bike, ciclismo de estrada ou bicicross.
Se pegarmos o quadro de medalhas de qualquer encontro olímpico, os países que se destacam são justamente aqueles onde o ciclismo de pista é mais desenvolvido.
Dos velódromos saem a maioria esmagadora das medalhas do ciclismo. No Pan do Rio, por exemplo, foram 33 medalhas em jogo dentro de nosso velódromo e o Brasil não ficou com nenhuma delas. No fim, amargamos a modesta nona colocação no quadro geral de medalhas do ciclismo, dominado pelos colombianos, que ganharam quatro medalhas de ouro, cinco de prata e uma de bronze. O mesmo se passou em Guadalajara, com a triste diferença que o Brasil não conquistou nem uma simples medalha em nenhum esporte com bicicleta.
O grande bicho papão dos velódromos na atualidade são os britânicos. Em Pequim, os ciclistas a serviço da rainha faturaram oito medalhas de ouro, quatro de prata e duas de bronze. Os arqui-rivais franceses ficaram na segunda colocação com duas de ouro, três de pratas e uma de bronze. Para Londres, a equipe da casa promete muitos títulos.
E a tradição britânica vem de longe. No final do século XIX e nos dois primeiros anos do século XX, era comum as pessoas irem ao velódromo todas as noites depois que o pubs se fechavam para acompanhar os rachas locais. Até hoje a tradição é mantida, com corridas quase todos os dias, inclusive com apostas em dinheiro.
Atualmente a Grã Bretanha tem 23 velódromos, o Japão 47 e a Austrália 20. Não é em vão que os britânicos conquistaram 14 medalhas em Pequim, sendo oito de ouro. Nossa vizinha Argentina tem 39 velódromos e trouxe para casa uma medalha de ouro conquistada no velódromo de Laoshan, em Pequim.
AS BIKES
As bicicletas utilizadas em velódromos – as pisteiras – têm características bem diferentes das bikes de ciclismo estrada. Para começar, tem o pinhão traseiro fixo, isso é, as alavancas do pedivela giram juntamente com as rodas. Não há descanso quando se pedala uma bike de pista.
A outra diferença é que não há freios. Para frear, o ciclista aplica uma força contrária nos pedais. A corrente é mais grossa e o uso das blocagens é vetado. As rodas são fixadas com porcas de tamanho 15mm e a gancheira traseira tem a abertura voltada para trás. Em competições oficiais, o pedal deve ter travas suplementares que passam sobre a sapatilha.
Os pneus em sua maioria absoluta são os tubulares, que em caso de furo não murcham imediatamente e tornam o controle da bike mais fácil nessa situação.
Como era de se esperar, num país carente de velódromos, as pisteiras são raras por aqui e difíceis de encontrar. O que muita gente faz é montar sua própria bike de velódromo usando um quadro de estrada com componentes de pista. Mas com paciência e uma boa dose de engenhosidade e improviso é possível montar uma boa bike.
O ciclista campineiro Luiz Guilherme Stangier Pires Barbosa descobriu o ciclismo de pista em 2004, na ocasião em que representou a cidade nos Jogos Regionais, e foi contagiado pelo vício das pisteras.
Hoje, o policial civil e ciclista amador tem cinco bicicletas de velódromo e conhece a receita para se montar uma bike de pista gastando pouco. “Voltei dos Jogos e montei duas bikes de pista. Nunca mais parei”, conta.
E a primeira bike de Guilherme foi uma Caloi 12, com a traseira retrabalhada. “Encurtei a traseira em 3cm e construí uma gancheira específica para pista”, lembra.
Os componentes são todos específicos para bike de pista. Mas sempre é possível improvisar. Guilherme ensina que o pedivela de estrada pode ser aproveitado. O pinhão pode ser o mesmo de uma bike trial e o cubo traseiro, de rosca, é o mesmo tipo utilizado nas bikes populares de rua, sem marcha, que custam R$ 12 o par. A corrente pode ser a de uma bicicleta Barraforte, mais grossa, e muito barata.
O pedivela de uma estradeira também dá para ser aproveitado. “Basta tirar a coroa grande do pedivela e fixá-la para o lado de dentro. Mas tem que ficar atento com o alinhamento da corrente entre o pinhão e a coroa”, ensina Guilherme. Normalmente se utilizam coroas entre 48 e 53 dentes e pinhões que tenham entre 14 e 17 dentes.
O ideal é que o pedivela seja um pouco mais curto, de 170mm ou 172,5mm, por exemplo.
Diversos quadros podem ser utilizados na montagem de uma bike de pista. “A primeira geração da Caloi Strada de alumínio é perfeita. Mas pode ser uma KHS de cromo, uma Trek, uma Specialized. Tanto faz.”.
No Brasil é possível encontrar quadros argentinos das marcas Privitera ou Collner, e outros importados como os Vicini específicos para pista, Bianchi e os nacionais da Mônaco. A Volare chegou a ter quadros para pista, que equiparam inclusive a Seleção Brasileira, mas a marca não está mais disponível no mercado. Um quadro Vicini para pista, com caixa de direção e garfo sai por R$ 700. Já um quadro de cromo KHS, usado, vai sair por R$ 200, já com a mão-de-obra e solda TIG necessária para fazer a adaptação na gancheira traseira.
Uma coroa de 48 dentes da Blackspire pode ser encontrada por R$ 160 com comerciantes especializados. O melhor é usar um guidão específico para pista, que tem a curva mais suave e não tem os passadores dos cabos. Os eixos são comuns e as porcas podem ser compradas em lojas de ferragens mesmo.
Quem puder investir num bom pedivela de pista vale a pena. Os da marca Miche custam em torno dos R$ 400. A Shimano e a Campagnolo também tem modelos específicos para pisteiras.
AS VANTAGENS DA FIXA
Pedalar uma bike de pinhão fixo é o melhor educativo para a pedalada. Na bike fixa o ciclista faz o exercício nos 360º do ciclo da pedalada e traciona 100% do tempo.
Outra vantagem é o desenvolvimento da potência, tanto pela aplicação de força como pela velocidade. O sistema cardiorrespiratório trabalha todo o tempo, já que é impossível parar de pedalar numa fixa. No velódromo, o exercício é perfeito, pois não há subidas nem descidas e o atleta pode trabalhar numa faixa de frequência pré-determinada.
Rodando num velódromo, as variáveis cadência, frequência cardíaca e velocidade são totalmente controladas durante o treino, especialmente nos treinos intervalados.
“Outro fator positivo do treino em velódromo é a proximidade do treinador do atleta. A cada volta, lá está o técnico orientando o ciclista”, afirma Guilherme.
DICAS PARA INICIANTES
Para quem quer iniciar no velódromo ou apenas curtir uma bike de pinhão fixo, vale conferir as dicas do Guilherme:
- Suba na bike pensando que não sabe andar de bicicleta nem pedalar.
- Lembre-se que a bike não tem freios.
- Tire as sapatilhas e faça a primeira pedalada num local sem movimento.
- Use relações mais leves no início. Guilherme recomenda o 44×14.
- Ao andar num pelotão tenha profundo respeito pelo vácuo.
- Andar no velódromo exige habilidade, portanto seja humilde e cuidadoso.
Existem diversos tipos de velódromos. Eles podem ser abertos e sem iluminação, abertos e iluminados ou cobertos. Mas a principal qualidade que os diferem entre si é o material da pista, que pode ser feita de cimento, asfalto, tarmac (uma espécie de precursor do asfalto) e o melhor de todos os pisos, a madeira. Entre as madeiras, a melhor é considerada o pinheiro siberiano, ou Pinho de Riga, que reveste a pista do velódromo do Rio de Janeiro e foi construída pela empresa holandesa Sander Douma, a mesma que fez a pista do velódromo dos Jogos de Atenas.
Outra preocupação na hora da construção é que a pista seja totalmente isenta da influência do vento, algo comum nos velódromos descobertos, mas também em alguns velódromos de última geração. Quem rodou no Velódromo da Barra, no Rio, garante que um dos lados fica exposto ao vento.
A pista de um velódromo pode variar de 150 a 500 metros. A maioria tem 250 metros, como é o caso do velódromo carioca. A inclinação pode variar de 12º a 42º, conforme a extensão da pista.
PROVAS OLÍMPICAS
As provas de velódromos são as seguintes:
Strach: É uma prova de largada conjunta (não existem eliminatórias, todos os participantes iniciam a prova em simultâneo) em que o objetivo é chegar no final em primeiro.
Corrida por pontos: É a prova mais longa do ciclismo de pista. A distância é de 25 km para mulheres e 40 km para homens. A cada sprint de dez voltas, os quatro melhores posicionados recebem uma pontuação, que dobra no último sprint. O vencedor é o ciclista que somar mais pontos. Nesta modalidade somente são disputadas provas individuais.
Keirin: A prova é disputada em oito voltas. Nas primeiras cinco voltas e meia, os ciclistas seguem uma bicicleta motorizada. Ela dita o ritmo do percurso até chegar aos 45 km/h. Quando a moto sai da pista os atletas dão o máximo nas últimas duas voltas e meia.
Madison: A prova é disputada entre dois ciclistas. Um deles mantém ritmo lento na parte alta da pista, enquanto outro percorre o mais rápido possível a parte baixa do velódromo. Há uma troca de ciclista, chamada de “câmbio”. O ciclista que está na parte de baixo toca a roda do companheiro para que este prossiga pedalando. A dupla pontua a cada 20 voltas completadas. O vencedor é quem completar o maior número de voltas. Em caso de empate, o vencedor será o que somou mais pontos.
Velocidade: É uma prova bastante curiosa de assistir. Nos primeiros 800 metros, os ciclistas pedalam lentamente, para evitarem ficar a frente do adversário, para que não se dê a vantagem do vácuo. O percurso total tem mil metros, mas somente os últimos 200 metros são cronometrados. Dois atletas percorrem a pista para competirem um contra o outro. A prova é percorrida em três voltas e é eliminatória.
Velocidade olímpica: Disputada por equipes de três ciclistas que largam em posições opostas da pista. Na primeira volta a disputa é liderada por um ciclista, que sai da disputa quando a volta é completada. Na segunda volta, o segundo competidor assume a liderança e sai da disputa na conclusão do término do percurso. Na última volta, o terceiro competidor completa a prova. Os pontos dos três ciclistas são somados para definir a equipe campeã. A prova somente é disputada por homens.
Contra o relógio: O ciclista larga sozinho na pista para percorrer mil metros. As mulheres correm 500 metros. Cada competidor larga em intervalos de 90 segundos.
Perseguição: Os ciclistas largam em posições opostas do velódromo. O atleta que ultrapassar primeiro o adversário vence a prova. Se não acontecer isto, o vencedor é aquele que completar o percurso da prova em menos tempo. Para homens, a distância é de 4 mil metros e 3 mil para mulheres. As provas são disputadas individualmente e por equipes.
Perseguição por equipes: A prova é disputada por quatro componentes, que completam 14 voltas. A equipe que terminar primeiro a distância com três ciclistas ou aquela que ultrapassar o terceiro ciclista adversário vence.
Quilômetro contra o relógio: A disputa é individual e consiste numa corrida contra o relógio entre a linha de partida e de chegada. Os ciclistas partem em intervalos de um minuto. São mil metros para os homens e 500 metros para as mulheres.
NO BRASIL
O primeiro velódromo do Brasil foi construído em 1892 e ficava onde é hoje a Rua da Consolação, na Zona Oeste da cidade de São Paulo. Em 1901 o Velódromo Paulistano virou estádio de futebol. Em 1963, a cidade ganhou o velódromo da Universidade de São Paulo, construído para receber os Jogos Pan-Americanos.
Hoje, o velódromo da maior cidade do Brasil está irreconhecível. Mas, se nos serve de consolo, o mesmo destino teve o velódromo de Herne Hill, construído para receber as provas dos Jogos Olímpicos de Londres, em 1948.
Saiba como estão os velódromos do Brasil:
Rio de Janeiro, RJ – Inaugurado às pressas para o Pan de 2007, o Velódromo da Barra, como é conhecido, é de primeiro mundo e o mais sofisticado da América Latina. Tem pista de madeira de 250 metros, elevador para ciclistas, cronômetros e placares Tissot. Acomoda 1.500 espectadores. Atualmente sob a tutela do COB, mas foi utilizado pouquíssimas vezes após o Pan. Será desmanchado para dar lugar a outro velódromo que vai receber as provas dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016.
Betim, MG – Fica no Parque Fernão Dias, na divisa entre os municípios de Betim e Contagem. A pista é de concreto e a Federação Mineira de Ciclismo manifestou o interesse em reformá-lo. Os ciclistas pisteiros da Grande Belo Horizonte se encontram em algumas datas para pedaladas entre amigos.
Curitiba, SP – Na capital paranaense, o velódromo fica junto no Centro Esportivo Municipal, no Jardim Botânico. Inaugurado em 1979, recebeu reformas para sediar os Jogos Sul-Americanos em 2002. Tem várias pequenas rachaduras, resultado de infiltrações. A pintura e área externa estão degradadas e há mato nas muretas de proteção.
Caieiras, SP – Inaugurado em 2003, o Velódromo Municipal de Caieiras – na Grande São Paulo – tem pista de concreto de 250 metros e já recebeu provas importantes do calendário nacional.
Maringá, PR – Inaugurado em junho de 2008, é descoberto e tem pista de 250 metros de concreto. O equipamento é parte integrante do Complexo Olímpico de Maringá. Após oito meses sem nunca ser utilizado, foi severamente pichado no início de fevereiro 2010.
Americana, SP – Fica junto ao Conjunto Poliesportivo Ayrton Senna da Silva e é utilizado pela equipe de ciclismo local e pelo time de Iracemápolis, entre outros. Tem pista descoberta de cimento de 333,33 metros de extensão.
USP, São Paulo – Foi construído em 1963 quando a capital paulista recebeu os Jogos Pan-Americanos e a universidade sempre restringiu seu uso. Tem pista de 200 metros de cimento. Está fechado desde o final dos anos 80.
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