sábado, 14 de dezembro de 2013

Pirataria sobre rodas

Por dentro do mercado de bikes e componentes de origem duvidosa

Não é de hoje que vários ramos do comércio sofrem com as mercadorias de origem duvidosa e com produtos que são imitações de marcas famosas e consagradas. Sejam relógios, óculos, calçados ou roupas de grife, a verdade é que a indústria de falsificações movimenta bilhões ao redor do mundo e praticamente nenhum produto está a salvo desse comércio ilegal que engana até os mais atentos. Nem bebidas, alimentos e remédios escapam da indústria da fraude.
Parece mas não é: Exemplo de quadro Scott Foil pirateato
Recentemente, o mercado de bicicletas de alta performance tem sido alvo desses produtos que chegam cada vez mais ao Brasil. São quadros e componentes como mesa, guidões e canotes, além de vestuário como bermudas, camisas, capacetes, óculos e, claro, bikes completas que imitam modelos famosos.
Em geral são produtos fabricados em países da Ásia, principalmente na China, e que ignoram completamente as normas de segurança e os direitos de propriedade intelectual.
Fora o lado comercial e fiscal, afinal, tais produtos entram por meios ilegais no País sem pagar impostos, existe toda a questão da segurança do ciclista. Nas redes sociais é cada vez mais comum relatos de quadros e outros componentes que imitam produtos de marcas consagradas que provocaram sérios acidentes.
PIRATAS DESPREOCUPADOS
“Os fabricantes sérios realizam muitos testes de laboratórios antes de lançarem um produto. Testam a resistência dos materiais e fazem retoques no projeto original de forma que determinado produto atenda, e até exceda, aos exigentes requisitos das normas internacionais. Produtos piratas não têm essa preocupação. Eu até entendo quem usa um vestuário falso, mas jamais se deve cogitar em usar um produto que comprometa a segurança do ciclista”, esclarece Daniel Aliperti, sócio proprietário da importadora Proparts e da bike shop Pedal Power em São Paulo.

A Pinarello Dogma é um dos modelos preferidos pelos falsificadores
Embora as falsificações não sejam restritas a uma ou outra marca específica do mercado ciclístico, a verdade é que marcas como Ritchey, FSA, Thomson, Giro, Nike, Oakley, Trek, Giant, Specialized, Colnago e Pinarello são vítimas do próprio sucesso e são as preferidas dos falsificadores e do comércio ilegal de bikes e componentes.
Felizmente, as falsificações raramente chegam a componentes complexos de serem fabricados como grupos (pedivelas, cassetes, câmbios, trocadores, cubos e freios), rodas e suspensões, já que exigem tecnologia sofisticada na fabricação.
OEM
O mercado ilegal não é um problema exclusivo do Brasil. Depois que as grandes empresas da América do Norte e da Europa levaram suas fábricas, projetos e métodos de fabricação para a Ásia, não demorou até que surgissem no mercado mundial os primeiros indícios de componentes genéricos (sem marca) e atrás deles vieram as falsificações.

Kit de quadro OEM
A verdade é que produtos piratas ganham cada vez mais espaço no mercado a ponto de algumas empresas desse setor criarem departamentos específicos para combater a produção, distribuição e venda de produtos piratas em todo o mundo.
OEM significa em inglês Original Equipment Manufacturer, ou seja, Equipamento Original do Fabricante
“A Specialized entende que a falsificação dos seus produtos, em particular dos seus quadros e capacetes, se apresenta como um grande risco para a saúde e bem-estar de todos nós”, afirma Gonçalo Costa, responsável pela operação da Specialized no Brasil.
Em busca de mão de obra mais barata que em seus países de origem, os fabricantes ocidentais buscaram parceiros na Ásia, sobretudo na China continental e em Taiwan, que produzissem de acordo com as exigências de qualidade e de segurança internacionais.
Assim, esses fabricantes norte-americanos e europeus firmaram contratos rígidos com empresas asiáticas que foram previamente certificadas para fabricarem produtos de alta tecnologia sempre sob a vigilância e observação de profissionais da marca original que encomendou os componentes.
É normal, portanto, que uma determinada fábrica em Taiwan, por exemplo, fabrique quadros para mais de uma marca, e o mesmo acontece com outros componentes. Esses grandes fabricantes estão amarrados a contratos de exclusividade e sob auditoria constante dos contratantes.
Quando um produto sai de uma dessas fábricas e vai equipar uma bicicleta de uma marca específica recebe o nome de OEM (Original Equipment Manufacturer), ou seja, Equipamento Original do Fabricante e, pelo menos em teoria, esse produto não chegará de maneira alguma ao consumidor final.
Os produtos piratas têm diversas origens. Uma delas, e a mais perversa, são os produtos que são verdadeiras imitações dos produtos consagrados. São cópias pura e simples e muitas vezes são tão toscas que é fácil de serem reconhecidas. Claro que existem cópias quase perfeitas que recebem erroneamente o nome de réplica, um mero eufemismo para falsificação, já que existem diferenças profundas na fabricação e, portanto, no nível de segurança oferecido.
Existem também os produtos genéricos e que não trazem nenhuma marca. Nessa categoria existem muitos quadros, capacetes, óculos e selins, por exemplo, que não têm identificação, embora tenham um design muito semelhante a modelos famosos e de alta aceitação no mercado.
MERCADO CINZA
Uma das maneiras que as mercadorias de origem ilegal chegam às prateleiras é naquilo que é conhecido como “mercado cinza”. Muitas vezes são produtos legítimos, fabricados nas fábricas certificadas, mas que foram desviados de seu propósito original que era atender os fabricantes de bicicletas.

Em geral esses produtos “cinzas” não possuem nota fiscal, já que entraram de maneira ilegal no País.
São peças que foram encomendadas por uma certa marca para equipar um determinado número de bicicletas. Parte desse lote é desviado intencionalmente – pois esses componentes têm preço bem menor – e acabam sendo vendidos no mercado de reposição e de upgrades, o chamado “After Market”. Uma maneira fácil de identificar esse tipo de componente é que eles são embalados dentro de sacos plásticos e não têm a embalagem (caixa) original justamente por serem componentes OEM que seriam usados numa linha de montagem de algum fabricante.
Outra maneira que peças originais chegam de maneira ilegal ao mercado é pelo desmanche de bikes, sejam elas novas, seminovas ou, ainda pior, furtadas.
Embora sejam peças originais, o comércio desses componentes é ilegal, pois não possuem nota fiscal e nem garantia.
Quadros de carbono estão entre os produtos preferidos para falsificação
COMO IDENTIFICAR
Elaboramos algumas dicas que ajudam a identificar produtos de origem duvidosa, sejam eles falsos, genéricos ou oriundos do mercado cinza.

A primeira dica é a procedência. Um produto original de marca consagrada é vendido somente em lojas autorizadas, seja loja física ou loja virtual.
Em caso de dúvida basta consultar o site de uma determinada marca para saber quem é o importador oficial para o Brasil e quais são as lojas autorizadas.
Outra importante pista para identificar um produto legítimo é o preço. Não existem milagres e todos revendedores trabalham mais ou menos num mesmo nível de preço. Desconfie quando um produto estiver num preço muito abaixo do mercado.
Antes da compra, olhe com atenção o produto no site oficial da marca e examine com atenção o produto e observe o acabamento, grafismo, pintura, adesivos, marcas em baixo relevo enfim, tudo o que pode ajudar na distinção de um produto original.
Outra dica é o peso. Informe-se previamente a respeito do peso oficial do produto que está comprando e, se for o caso, exija que a mercadoria seja pesada na sua frente.
No caso de quadros, por exemplo, todos saem de fábrica com um número de série que identifica onde foi adquirido, o lote e o ano de fabricação, como chassis de automóveis. Em caso de dúvida, vale a pena ligar no representante de oficial no Brasil e perguntar se aquele quadro é legítimo.

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